segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Hoje somos todos Portugal


Estas foram as palavras que o nosso Presidente da Republica proferiu em discurso no dia em que aconteceu um dos maiores desastres naturais até à memória, na ilha da Madeira. Dia em que se abriu uma enorme ferida no coração deste arquipélago. Não se podem transformar em palavras todos os estados da nossa vida - sentimentos, então, menos ainda. E às vezes é melhor guardar certos instantâneos na nossa memória e no nosso coração. Há momentos só nossos.

Longe de mim imaginar que as chuvas torrenciais da madrugada de sábado, anunciavam algo não muito bom. Acordei várias vezes durante a noite com o barulho da chuva, de tão violenta que era. Estava em casa quando todo o caos se instalou. Os telefonemas de familares e amigos nessa manhã não paravam de cair no caixa de correio dadas as dificuldades de comunicação.

Perante os telefonemas, depois que a chuva deu tréguas, desci à rua na tentativa de perceber o que estava a deixar tantas pessoas em pânico do outro lado do telefone. A 500 metros da minha casa, as ruas do Funchal palmilhada por mim todos os dias, onde eu tinha estado horas antes, estavam transformadas em rios gigantescos, com um caudal fortíssimo. Nunca tinha visto nada igual. Nem imaginado que alguma vez fosse possível. Lembro-me que senti uma agonia muito grande dentro de mim. Correntes de água tomaram conta das ruas. Polícias tentavam salvar pessoas. Gritos. Carros levados como brinquedos. Em momento algum tive medo. Nem sei explicar. Lembro-me que não senti medo. Mas lembro-me de ter a sensação de me sentir de novo pequenina. Muito pequenina. Esmagada.

Na rua onde vivo não houve estragos. Fiquei sem água e luz durante dois dias. Foi o pior que me aconteceu. Pouco. Muito pouco. Comparado com a desgraça de muita gente que perdeu tudo. Acho que os laços com esta ilha estão ficando bastante apertados. É um dos locais que conheço, que é impossível não gostar. Hoje deu-me uma agonia enorme ver alguns dos cantinhos que eu mais gosto desta cidade completamente deformados. "Ainda ontem estava tudo no sítio" - penso eu muitas vezes... é triste ver parte desta ilha lindíssima, desta forma. Eu acredito piamente na capacidade de reacção dos madeirenses.


Há 48horas que as máquinas não param. As pessoas já estão há vários dias seguidos a trabalhar incansavelmente. Por várias vezes, quando acordo durante a noite, ouço o barulho, de todos os que ainda acreditam que o dia de amanhã poderá voltar a ser o que foi ontem. Vai demorar dias, semanas, senão meses. Mas todos estão a fazer o máximo que pode ser feito. O máximo que se pode fazer neste momento. Nas ruas, reparamos na tremenda tristeza que vai no rosto de cada madeirense, mas por outro lado, uma vontade e uma força enorme, para recuperar tudo o que ainda resta. O sofrimento às vezes consegue superar realidades que a felicidade não consegue. Não tenham dúvidas!


Sou das poucas pessoas que conheço que até hoje teve a oportunidade de escolher o local onde quis trabalhar. Estou na Madeira por opção. Deixei o meu emprego há 5 meses atrás, a 5 minutos de casa, para hoje estar aqui. Sei, à partida, que este irá ser, se depender da minha vontade, um local de passagem, que eu decidi ter no meu percurso de vida e profissional. Assim como também sei que jamais a irei esquecer. Desejo e faço votos de que a ilha da Madeira recupere de toda esta situação. Porque merece. Mas acima de tudo: porque eu quero, todos os Portugueses querem e o Mundo quer continuar a apreciar a Pérola do Atlântico.

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